sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Dia do ator
O blog Batendo Texto deseja a todos os atores um lindo Dia do ator.
Um dia para pensarmos em questões que, latentes ou explícitas, colaboram ou prejudicam o nosso ofício.
É mais um dia para refletirmos sobre o nosso papel na sociedade e relembrarmos de quantos atores, diretores, dramaturgos, entre outros profissionais da comunicação, fizeram a diferença e abriram diversos caminhos para essa nova geração de atores.
Porém acredito que não basta apenas determos grande herança cultural se não fazemos uso dela.
É necessário que nossa geração, muitas vezes acomodada, aproprie-se de ensinamentos, porém sem usá-los como regras, mas sim explorando os novos caminhos que podem verter dessa imensa bagagem que nos foi regalada, aprimorando técnicas, descobrindo novas direções e gerando outras fontes, não deixando que muitos valores se percam pelo caminho.
"Atores, sejamos peneiras e não esponjas". (Larissa Landdim)
Questione, reivindique, informe-se, não absorva tudo aquilo que chega até você como se isto fosse lei.
Que também possamos pensar na amplitude de nossa profissão e quando nos sentirmos sozinhos e sem oportunidades, façamos dos nossos sonhos e projetos realidade.
Não fomos capacitados para esperar, esperar, sentados, deitados...
O exercício da nossa função não é ficar parado esperando que algo aconteça, mas sim transformar vida em arte.
É a profunda e intensa pesquisa diária, é praticar isso com paixão e coragem.
Então, atores, muita força para prosseguir e persistir neste árduo caminho.
A recompensa?
É o próprio caminho!
Para homenagear nossos queridos colegas de profissão finalizo com um texto que acho fantástico.
O ator, de Plínio Marcos
Por mais que as cruentas e inglórias
Batalhas do cotidiano
Tornem um homem duro ou cínico
O suficiente para fazê-lo indiferente
Às desgraças e alegrias coletivas,
Sempre haverá no seu coração,
Por minúsculo que seja,
Um recanto suave
Onde ele guarda ecos dos sons
De algum momento de amor já vivido.
Bendito seja
Quem souber dirigir-se
A esse homem
Que se deixou endurecer,
De forma a atingi-lo
No pequeno porém macio
Núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo,
Tirá-lo da apatia,
Essa grotesca
Forma de auto-destruição
A que por desencanto
Ou medo se sujeita.
E por aí inquietá-lo
E comovê-lo para
As lutas comuns da libertação.
O ator tem esse dom.
Ele tem o talento de atingir as pessoas
Nos pontos onde não existem defesas.
O ator, não o autor ou o diretor,
Tem esse dom.
Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dele.
O autor e o diretor só são bons na medida
Em que dão margem a grandes interpretações.
Mas o ator deve se conscientizar
De que é um cristo da humanidade:
Seu talento é muito mais
Uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que para ser
Um ator de verdade, vai ter que fazer
Mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem,
Muita humildade e, sobretudo,
Um transbordamento de amor fraterno
Para abdicar da própria personalidade
Em favor de seus personagens,
Com a única intenção de fazer
A sociedade entender
Que o ser humano não tem
Instintos e sensibilidades padronizados,
Como pretendem os hipócritas
Com seus códigos de ética.
Amo o ator
Nas suas alucinantes variações de humor,
Nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
Quando ele, como viajor solitário,
Sem a bússola da fé ou da ideologia,
É obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente
Procurando, no seu mais secreto íntimo,
Afinidades com as distorções de caráter
De seu personagem.
Amo o ator
Mais ainda quando,
Depois de tantos martírios,
Surge no palco com segurança,
Oferecendo seu corpo, sua voz,
Sua alma, sua sensibilidade
Para expor, sem nenhuma reserva,
Toda a fragilidade do ser humano
Reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor à platéia
Os aleijões da alma humana,
Com a única finalidade
De que o público
Se compreenda, se fortaleça
E caminhe no rumo
De um mundo melhor,
A ser construído
Pela harmonia e pelo amor.
Amo o ator
Consciente de que
A recompensa possível
Não é o dinheiro, nem o aplauso,
Mas a esperança de poder
Rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que,
No palco, cada palavra
E cada gesto são efêmeros,
Pois nada registra nem documenta
Sua grandeza.
Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que
O teatro é eterno
E jamais será superado
Por qualquer arte que
Se valha da técnica mecânica.
Assinar:
Postagens (Atom)