domingo, 20 de fevereiro de 2011

A complexidade da mente


É incrível como uma obra de arte é capaz de mexer tanto conosco, basta estar aberto para recebê-la.

Cada pessoa absorve um discurso a sua maneira. Mesmo que este tenha um objetivo muito bem definido, a subjetividade de quem o recebe (completamente peculiar) é que ditará seu caminho.

As luzes se acenderam e ninguém levantava da cadeira. Perplexos, chocados... Tomados por algo talvez ainda inexplicável, mas que de alguma forma se faria apreender posteriormente (ao menos para mim).

Dormir? Talvez tenha sido uma das noites menos dormidas, entretanto uma das mais instigantes. O caminho espetacular de uma atriz que tirou meu sono, despertando sensações e descobertas que ainda necessitam ser trabalhadas por mim.

O que significa para um artista atingir a perfeição? Quem sabe se deixar tomar pelas emoções, instintos, se embebedando daquele mundo, daquela vida... Será esta uma busca arriscada, cheia de fantasmas que talvez ainda não estejamos preparados para enfrentar?

Nossos cérebros guardam segredos de nós mesmos e decidem apresentá-los quando bem lhes provem ou talvez quando imploramos por algo mesmo sem percebermos.

O que me move? O que te move? A cada pequena ação temos um objetivo interior, algo que nos movimenta, nos faz sair da zona de conforto, faz agir. A busca por este movimento interior, este preenchimento é que faz com que o ator sinta, naquele momento, que a sua vida é a vida daquele papel.

A imaginação - trazendo o ator criador -, assim como a entrega - permitindo-se - e a abstração - quando já doamos nosso corpo àquela outra vida, àquela outra história - (Constantin Stanislavski) precisam atuar em conjunto para que a interpretação e o olhar passem a verdade necessária.

Acho interessante destacar que quando trabalhamos desta forma com a mente é importante que a razão e a emoção estejam em harmonia. A vontade humana é racional e o desejo emocional, portanto o equilíbrio e o trabalho em cooperação evitam uma entrega sem verdade e também aquela em que o ator não tenha o controle sobre si próprio.

Como saber se estamos preparados para aquele personagem? Possuímos a estrutura necessária para equilibrar tudo que foi dito até agora?

Ainda não sei a resposta. Quem sabe batendo o texto a gente tenha algumas sugestões e percepções.

As únicas coisas de que tenho certeza são que talento sem disciplina e determinação é um ator em estado bruto e que o propósito interior está presente nos nossos cinco sentidos, fazendo dos olhos o espelho da alma.

4 comentários:

  1. Indicação: vejam o filme "Cisne Negro" que atualmente está nos cinemas.

    Bjus

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  2. Para os apaixonados em arte, "Cisne Negro" é de tirar o fôlego.
    Realmente faz perder o sono com o baú de novas sensações que ele traz.
    Realidade x ficção! Até que ponto eles se misturam e se dividem?
    Perfeição? Existe? Está dentro de nós ou dentro dos outros?!
    Belas palavras Lari e a indicação é valiosa! Assistam!
    Bjos,
    Aline

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  3. Uau!
    (breve pausa)
    Como eu disse, eu precisava assistir ao filme antes para poder comentar seu post.
    E hoje eu tive o prazer de sentir (não sei se da mesma forma) aquilo que você sentiu.
    Primeiramente, quero parabenizá-la pela forma que expressou todo esse misto de sensações que são consequências desta obra impecável.
    Já havia lido o seu texto e achado muito importante e relevante os questionamentos e conclusões aos quais chegou, mas agora, ao relê-lo, pude me identificar com ele e mais do que isso, pude compreender e organizar as minhas idéias, que ainda estavam muito embaralhadas com tamanho impacto que esse filme me causou.
    Enquanto eu comprava meu ingresso o garoto na fila ao lado me disse: - Com certeza esse é o melhor filme de 2010. Já assisti duas vezes.
    Sim, ele tinha razão. É o melhor filme de 2010, se não um dos melhores que já vi. E sim, é necessário assistir mais de uma vez.
    Nina queria alcançar a perfeição, e por fim ela disse: -Foi perfeito. Eu senti.
    Ela experimentou o sabor da estréia.
    Ah se todas as apresentações fossem como a estréia!
    O que acontece muitas vezes, é que a total entrega (aquela em que personagem e ator se fundem a ponto de não saberem onde um começa e o outro termina) pode surtir um efeito sublime num primeiro momento, mas o que determinará o sucesso de um artista é a perfeição durante as diversas apresentações que sucederão a estréia, por isso é necessário antes de tudo a técnica. Esta proporcionará o equilíbrio necessário entre razão e emoção, como você citou no texto acima.
    O comentário da Aline (Li =), me fez relembrar de alguns ensinamentos do diretor/professor de cinema Fernando Leal. Muitas vezes, a ânsia pela perfeição é despertada dentro de nós, atores/artistas, não só para realização individual, mas também para alcançarmos o êxito perante o público, a equipe e a crítica. Esse desejo, mesmo que inconsciente de surpreender o outro, é natural, mas quando ele é exacerbado nos desligamos dos objetivos do personagem e acabamos impedindo que haja total entrega e abstração.
    (...)
    Logo após o cinema, enquanto esperava minha colega para irmos ao ensaio, continuei a ler: O teatro e seu duplo, de Antonin Artaud. E acho que vale a pena destacar esse trecho que, naquele momento, deu completo sentido ao filme:
    “O ator é um verdadeiro atleta físico, mas com a ressalva surpreendente de que ao organismo do atleta corresponde um organismo afetivo análogo, e que é paralelo ao outro, que é como o duplo do outro embora não aja no mesmo plano.
    O ator é um atleta do coração.
    ...O ator dotado encontra em seu instinto o modo de captar e irradiar certas forças; mas essas forças, que têm seu trajeto material de órgãos e nos órgãos, ele se espantaria se lhe fosse revelado que elas existem, pois nunca pensou que pudesse existir.
    Para servir-se de sua afetividade como o lutador usa sua musculatura, é preciso ver o ser humano como um Duplo, como o Kha dos Embalsamados do Egito, como um espectro perpétuo em que se irradiam as forças da afetividade.
    Espectro plástico e nunca acabado cujas formas o ator verdadeiro imita, ao qual impõe as formas e a imagem de sua sensibilidade”.
    Sei que me prolonguei demais neste comentário, mas espero que assim possamos expor mais idéias e discutir sobre esses assuntos que muitas vezes rendem mais de três horas de conversa infindável ao telefone, não é mesmo, Lari?

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  4. Vixe... Muito Complexo ese Assunto...
    hehehe...

    Harmonia = Equilíbrio;
    Ação = Reação;
    Sentimentos = Laboratório (Vida);

    Realidade X Ficção;
    Perfeição X Observação;
    Novidade X Continuidade;

    Bases da Vida...
    Da Minha, Da Sua... e Do Ator...
    Sucesso... Besos...

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