
Hoje, ao acordar, senti que precisava RESPIRAR.
Mas não respiramos o tempo todo? Involuntariamente? Inconscientemente?
Sim, mas hoje eu quero explorar as possibilidades do meu pulmão, diafragma e vias aéreas.
“O que a respiração voluntária provoca é uma reaparição espontânea da vida.” (Artaud)
Sim, é disso que eu preciso! Vida! Então... mexa-se!
Arrastei os móveis da sala e passei um pano no chão para tirar a poeira (eu sei, o meu TOC não vem ao caso).
Quando o piso secou, me deitei, e primeiramente tentei alinhar a minha coluna, relembrando da lição de casa que a fisioterapeuta sempre me recomendou.
A partir dos princípios da RPG, trabalhei a respiração concomitante ao alongamento da coluna.
Endireitava o pescoço, alongava os braços e as pernas. Sustentava o corpo no abdômen, concentrando energia e tônus em seus músculos. Respirava suavemente. Chegou um momento que achei que a minha coluna estava alinhada ao chão. Comecei então a brincar com a respiração e o diafragma. Fracionava inspiração em expiração em tempos diferentes. Inspirava em 10 segundos e expirava em 10. Inspirava em dois segundos e expirava em dois, inspirava em dois segundos e expirava em seis, enfim, experimentei diversas frações. Uma “sequência” me deixava calma, outra me incitava ao nervosismo, algumas vezes me senti agoniada e até agonizante, e ainda tinha aquela que me deixava triste e aquela outra que me dava sono...
“A respiração acompanha o sentimento e pode-se penetrar no sentimento pela respiração, sob a condição de saber discriminar, entre as respirações, aquela que convém a esse sentimento.” (Artaud)
Um susto, uma paixão, a decepção, o sono, o medo, a agonia, a felicidade, dentre outros sentimentos, interferem na nossa respiração e pulsação. Mas essa interferência também pode ser voluntária e permite que cheguemos a diferentes emoções. Acessar o físico para chegar lá. Você já experimentou em alguma cena que fez? O que funciona melhor para cada ator? Não é uma regra, mas pode ser um caminho muito interessante para o ator alcançar seu objetivo em cena.
“Alcançar as paixões através de suas forças em vez de considerá-las como puras abstrações confere ao ator um domínio que o iguala a um verdadeiro curandeiro. Saber que existe uma saída corporal para a alma permite alcançar essa alma num sentido inverso e reencontrar o seu ser através de uma espécie de analogias matemáticas”. (Artaud)
O corpo humano é um instrumento de trabalho para nós atores, uma máquina complexa e perfeita em seu funcionamento, imprescindível para o ofício do ator. Que tal nos embrenharmos por esses misteriosos sistemas que nos compõem? Que tal sentir a pulsação de cada órgão? Buscar a origem de cada arrepio e frio na barriga?
É uma tarefa difícil e corajosa, então, antes de começar, inspire... e expire.
*Dica de leitura: Um atletismo afetivo. Capítulo do livro: O ator e seu duplo (Antonin Artaud)